Não via a hora de voltar a escrever por aqui. Queria compartilhar com você o que resultou das primeiras conversas sobre italianidade que tive ao longo da semana… Mas, pensei bem e achei melhor, antes, revelar para você o que eu “descobri”.
Embora isso tenha uma grande chance de ser só coisa da minha cabeça, constatei algo que já sabia: a italianidade percebida pelos paulistanos – e que acende a nossa emoção de forma tão apaixonada – pode ser só uma perspectiva. E não me entendam mal, pois não estou dizendo que ela seja uma invenção.
Só sei o que sei: a nossa italianidade é inconstante como um holograma.
É como se a gente segurasse pelas mãos o feixe de luz que reflete o objeto – mas não o objeto em si, entende? É como se a gente fizesse as próprias mãos em concha para nelas acomodar a “nossa” Itália – particular e única. A italianidade paulistana é o que cabe no côncavo (único e diverso) dessas mãos e, por isso, é como se ela não viesse do mesmo lugar.
É fato: se para uns ela ocupa os mesmos lugares onde se brincava na infância, para outros, ela vem de mais longe ainda – da ancestralidade… Se para alguns ela é apenas uma opção gastronômica para o final de semana, para outros ela nem chegou a ser uma saudade, mas já é nostalgia… Ora, não há de se ter espanto com isso. Afinal, não é isso que toda a gente faz? Levar consigo “apenas” os afetos que se quer sentir?
Toda essa descoberta me fez pensar que não vivemos apenas “uma” italianidade em São Paulo. Vivemos “italianidades” – no plural mesmo – e da melhor maneira… Como se, em cada côncavo morasse uma beleza… Acho que é nisso que dá viver numa cidade tão cosmopolita.
Mas então? Se a italianidade que mora em São Paulo é mesmo um holograma, quem poderia torcer o nariz para a forma como a gente vê, percebe e sente as belezas da Itália por aqui? Que mal pode haver se nós, como meninos confessando a Santo Agostinho, sonhamos esvaziar o mar com uma minúscula colher para então colocá-lo todinho em um pequeno buraco na areia?
As perguntas são retóricas, é claro. Mas, e se não fossem? Quem poderia falar tão bem assim sobre as nossas italianidades? Os “paulistanos-raiz”? Ou aqueles de ancestralidade comprovada? Os italianos daqui ou os “italiani DOC” (de denominação de origem controlada)? Quem mais, neste feixe ou concha?
No próximo ensaio, prometo começar a contar para você o que resultou destas conversas; dar os primeiros contornos deste holograma.
Helenice Schiavon é designer educacional, especializada em projetos com storytelling e oralidade. Professora, pedagoga e locutora técnica, escreve ensaios quinzenais sobre italianidade em São Paulo em Pittoresca.
Imagem de capa: Unplash