
Viajamos até a Lucania e provamos as principais delícias da região
A convite da Agência Nacional de Turismo da Itália (Enit), Pittoresca esteve na Basilicata para descobrir quão pitoresca é esta região do sul da Itália, que apesar de ter muita personalidade, está fora dos roteiros tradicionais de turismo pelo Belpaese.
Como já revelamos em nossa primeira reportagem sobre a “Lucania” (leia aqui), seu território, entre os mares Jônico e Tirreno, é repleto de colinas, cujo sobe-e-desce manteve a população local restrita a sua zona de origem, influenciando muito no que se come por ali.
Salame lucano, crispi e pão servidos como aperitivo / Bruna Pit
Dessa forma, a gastronomia regional é fortemente rural, com pratos simples feitos com carnes suína e ovina, além de legumes, cereais e verduras cultivados a quilômetro zero (muito antes desta expressão existir). Mesmo com dois mares, o consumo de peixes se limita apenas ao litoral lucano.
Em nossa viagem pelo interior da Basilicata, pudemos apreciar algumas de suas excelências. Nos aperitivos, por exemplo, não faltava o tradicional salame lucano, de coloração avermelhada e sabor adocicado. Também era muito comum saborearmos vinhos produzidos ao modo caseiro, com teor alcoólico reduzido, menos encorpados e servidos em copos de plástico, tal como um refrigerante. Ainda hoje, muitas famílias italianas mantêm o hábito de produzir o seu próprio vinho para acompanhar o almoço e o jantar cotidianos.
Se formos falar de vinhos “sérios” locais, o “Terre di Orazio – Aglianico del Vulture DOC 2020” nos pegou de jeito. Enquanto saboreávamos a primeira taça da garrafa na parte histórica de Matera, o garçom nos explicava que as uvas aglianico são cultivadas na área em torno ao Monte Vulture na Basilicata, cujo solo é vulcânico. O resultado é um vinho rubi encorpado, mas delicado na medida certa, que apreciado ao anoitecer em uma das cidades mais antigas e sugestivas do mundo, torna a experiência inesquecível.
Um dos maiores ícones da gastronomia lucana é, sem dúvidas, o peperone crusco. Feito com pimentão doce típico do município de Senise, a iguaria fica pronta quando os pimentões são ressecados debaixo do sol e depois fritos em azeite extravirgem. Crocante, o “ouro vermelho da Basilicata” tem reconhecimento IGP (Indicação Geográfica Protegida) e pode ser consumido tanto como aperitivo – curtimos a porção de peperoni cruschi, com sua crocância e delicadeza – como em ingredientes para outros pratos.
Combinação vinho típico lucano e Matera é perfeita / Bruna Pit
Neste caso, a pasta con peperoni cruschi nos foi apresentada como uma dentre as diversas variações onde o produto é utilizado na cozinha lucana. Saboreamos o prato feito com massa strascinate, típica da Basilicata, pão ralado e para finalizar, um pouco da ricota local, a cacioricotta.
Como a culinária italiana não se limita a massas, também comemos muita berinjela e pimentões grelhados, além de queijos locais, onde o caciocavallo é o protagonista da Lucania e do nosso paladar.
Apesar de não ser uma excelência exclusiva da Basilicata, já que também é produzido em outras regiões do sul italiano, o caciocavallo lucano tem suas particularidades que se diferem dos demais, sendo, por isso, um produto com selo DOP (Denominação de Origem Protegida), que garante que foi produzido ao método tradicional em uma zona delimitada.
Esse queijo maturado, feito com leite bovino, que inteiro lembra as amarras de um cavalo, pode ser encontrado em sua versão tradicional ou defumada, ainda que os mais bairristas acrescentem nele pedacinhos de peperoni cruschi. Todas as versões são deliciosas!
Peperone crusco, pimentão verde e berinjela grelhados / Bruna Pit
Associar a Itália a massas, te faz cair em alguns “golpes”, como aconteceu conosco. O que parecia ser um mero macarrão com feijão, na verdade era fagioli con le cotiche, ou seja, feijão com pele de porco cozida. Como nossa repórter está longe de ser carnívora, ela não engoliu esta proposta…
Já a turismóloga paulista Richeli Sisto, que viajou conosco no mesmo grupo de convidados da Enit, vibrou quando se deparou com uma porção de crispi na mesa de aperitivos servida a nós em Rotondella. Neta de lucanos de Rapolla, província de Potenza, Richeli se emocionou com os bolinhos fritos de sua infância.
Aperitivo com 3 tipos de caciocavallo, peperoni cruschi, tarralli lucani e vinho local / Bruna Pit
“Achei o crispe, bolinho que a minha nonna fazia, que a tia Ema fazia, que minha mãe fazia, e que eu comia quando era criança”, disse ela, toda sorridente, com uma fatia da fritura em cada mão.
Quando a sobremesa era servida, não faltaram os tradicionais sospiri, um bolinho com massa de pão de ló, recheado com compota de cereja e cobertura de açúcar. Por encantar os olhos – mas nem tanto o estômago – o doce costuma marcar presença em festas de casamentos na Basilicata.
Para nós, a última bolacha do pacote foram os tarrali lucani, que nosso simpático hostess em Matera, Saverio do “Le Origini”, nos serviu. Este biscoitinho salgado acompanhou, sem fazer feio, nosso vinho – um “Re Manfredi , Taglio del Tralcio, Aglianico del Vulture DOC 2020” – ao lado dos peperoni cruschi, três tipos de caciocavallo, geleia e pão.
Imagem de capa: Pasta con peperoni cruschi / Wikimedia commons