Destaque da Flip, Veronesi é fã de Jorge Amado e não teme IA

Autor italiano vive expectativa de conhecer Brasil de Ancelotti

Em meio à expansão da Inteligência Artificial (IA), o escritor italiano Sandro Veronesi afirmou não ter “medo” de um novo cenário em que a produção de textos tem utilizado cada vez mais essa ferramenta.

“Não tenho medo da concorrência da IA, mas de uma tecnologia que poucos conhecem”, afirmou Veronesi, convidado de honra da 23ª Festa Internacional Literária de Paraty (Flip), que acontece de 30 de julho a 3 de agosto na cidade fluminense.

Detentor dos principais prêmios literários da Itália, como o Strega e o Campiello, o autor nascido em Florença, na Toscana, confessou inclusive que já usou o Chat GPT para pesquisar sobre si mesmo.

“Apareceram obras de [Andrea] Camilleri como se fossem minhas”, contou, em tom indignado. “Para onde vão esses erros?”, questionou o escritor, que integrará uma mesa em 31 de julho sobre “histórias da vida comum”, tema marcante de sua produção literária, que vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil a partir de romances como “O Colibri” e “Setembro Negro”, ambos publicados pela Autêntica Contemporânea e muito bem recebidos pela crítica.

Aos 66 anos e pai de cinco filhos, incluindo dois adolescentes, Veronesi nunca obrigou sua prole a ler. A metodologia consistia simplesmente em não interromper a própria leitura quando as crianças o chamavam. “Estou ocupado, estou lendo”, respondia aos filhos, despertando, assim, “curiosidade” neles. Como resultado, todos os seus filhos leem, incluindo os menores, nascidos em pleno auge das redes sociais.

Na visão de Veronesi, o mundo digital tem pouco a ver com a decadência no número de leitores em alguns países, já que a literatura “sempre teve seu público bem definido”.

“É um cenário complexo que também envolve a crise industrial no custo dos livros, que, na Itália, são vendidos por cerca de 20 euros [R$ 130]”, refletiu o escritor, definindo as redes sociais como um “mero passatempo que não exige muito”.

Autor de dezenas de obras, Veronesi foi claro ao afirmar que “não gosta de contar histórias verdadeiras”, já que “cada um tem a sua verdade”, mas explicou que suas tramas são uma boa mistura de “inspiração e fatos da memória”.

No caso de “Setembro Negro”, lançado há apenas dois meses no Brasil, o florentino não soube dizer “de onde veio” a narrativa sobre Gigio Bellanti, um garoto de 12 anos que amadurece em pleno verão italiano de 1972.

“Estava no carro e, em duas ou três horas, me veio todo o romance à mente”, revelou, destacando que o enredo ocorre no mesmo ano em que houve os atentados nas Olimpíadas de Munique, na Alemanha, um ponto central na história do personagem pré-adolescente, época em que ele mesmo também tinha quase a mesma idade.

Sobre sua primeira vinda ao Brasil, Veronesi, que estará acompanhado de um dos filhos caçulas, afirmou estar “com alta expectativa”. Afinal, ele se declarou um grande devorador de livros latino-americanos, a começar pelo baiano Jorge Amado, passando pelo colombiano Gabriel García Márquez, pelo peruano Mario Vargas Llosa e tantos outros.

Além disso, o italiano também se sente feliz em visitar o país no mesmo ano em que seu compatriota Carlo Ancelotti foi anunciado como técnico da seleção de futebol.

“Ele é um grande embaixador da Itália”, disse Veronesi, entre sorrisos.

Imagem: Divulgação/Marco Degolu


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