Histórias e lendas dos castelos de Parma e Piacenza

Fortalezas milenares, museus, parques e assombrações estão entre os atrativos de itinerário com palácios medievais na Emilia Romagna

Visitar os castelos italianos é uma viagem no tempo. Na região da Emilia Romagna, um roteiro se destaca ao reunir dezenas de fortificações seculares que podem ultrapassar os mil anos de existência. Os Castelos do Ducado de Parma, Piacenza e Pontremoli são um apanhado de fortificações medievais, cujos fatos históricos se misturam às lendas narradas pelo povo.

Como toda boa história envolvendo castelos, não faltam cavaleiros, batalhas e amores proibidos que terminam em tragédias. Mas a morte não é o fim: muitos fantasmas insistem em vagar pelas muralhas destes palácios durante a eternidade. Há registros atribuídos a tais almas penadas em fotografias de estudiosos de parapsicologia e de turistas.

De volta ao mundo dos vivos, o itinerário dos Castelos do Ducado de Parma, Piacenza e Pontremoli também reúne museus, parques e boa comida. Para conferir o roteiro completo, acesse o site oficial do projeto aqui.

Castello di Contignaco

Sala interna do Castelo di Contignaco / Reprodução Castello del Ducato

No topo de uma colina em Salsomaggiore Terme, a 317 metros de altura, impera o Castello di Contignaco. Erguido no século 11 para fins de defesa da região, o palácio é um belo exemplo de arquitetura militar medieval, com planta regular em torno de um pátio interno quadrado. Junto do portão de entrada está a torre de menagem, com cerca de 30 metros de altura e data de construção estimada por volta do ano de 1030.

Roteiro

Situado entre o verde das colinas de Salsomaggiore Terme, a 27km de Parma, o Castello di Contignaco está rodeado pelos campos e vinhedos da família Romanini, sua atual proprietária. Os Romanini produzem quatro tipos de vinhos, entre tintos e brancos, espumantes e robustos, que podem ser saboreados no local.

A família também produz leite, fabricado de acordo com os rígidos métodos do Consórcio de Tutela do Parmigiano Reggiano, que garantem a qualidade e a autenticidade do produto regional.

O Castello di Contignaco segue aberto para visitação durante todo o ano. As visitas são guiadas e duram em torno de 50 minutos. Ingressos e outros detalhes aqui.

Lenda: Dante Alighieri e os Contignaco

O Castello di Contignaco tem suas origens em uma antiga família feudal de Parma, os Pallavicino. Em 1315, após uma difícil batalha, o castelo foi conquistado pela família Aldighieri, da mesma cidade.

Os Aldighieri – mais tarde chamados de “Contignaco”- , são aparentados dos Alighieri toscanos. Foram senhores do castelo por mais de dois séculos, entre 1315 a 1517. Por este motivo, se diz que o grande poeta Dante Alighieri (1265-1321), durante os seus anos de exílio, teria buscado refúgio no lugar.

A ligação de Dante com o Castello di Contignaco se evidencia pela presença de um manuscrito da Divina Comédia, obra-prima do poeta, assinada por Giovanni de’ Gambis, um clérigo florentino que em 1411 reproduziu uma das sete melhores versões do livro dentre as 600 existentes.

Fortezza di Bardi

A 60km de Parma, o castelo de Bardi é uma das construções milenares da Emilia Romagna / Salvatore Sabatino @castelli.e.borghi_di_italia

Também conhecida como “Rocca di Bardi”, está localiza a 60 km de Parma, na cidade homônima à fortaleza. Mais um dos grandes exemplares da arquitetura militar italiana, este castelo milenar, cuja edificação antecede o ano de 898, está localizado no topo de um rochedo de jaspe vermelho, entre os rios Noveglia e Ceno.

Como provas do que houve ali em tempos de conflitos, o palácio possui diversas torres e caminhos de ronda, além de antigas prisões e salas de tortura em seu calabouço.

Roteiro

Pela primeira vez na história do castelo, desde 2014, segue aberta para visitação o Bastião de Artilharia, construído no século 15 por Manfredo Landi, “o Magnífico”. O lugar traz exemplares que ilustram o cotidiano de seus velhos tempos através do poço, dos celeiros e do forno seculares.

O Castello di Bardi é a sede nacional do Centro de Coordenação de Máscaras Italianas. Suas salas recebem mostras sobre a temática de todas as regiões da Itália, ressaltando a cultura, as tradições e a identidade do território italiano.

O local também oferece outras exposições, como a “Novecento: Arte e mestieri dell’Est Europeo”, sobre artistas do leste europeu do século 20, em cartaz desde 2017.

O Castello di Bardi funciona de março a dezembro. Ingressos e outros detalhes aqui.

Lenda: O fantasma do cavaleiro Moroello

A Fortezza di Bardi é assombrada desde o final do século 15, quando ali viveu o cavaleiro Moroello. Seu espírito é visto a rondar uma das torres do palácio, sempre acompanhado de uma triste melodia. A lenda desta figura fez do castelo de Bardi o pioneiro mundial nos registros de “fantasma térmico”.

Passados mais de 500 anos de sua morte, o atormentado fantasma de Moroello segue em busca de sua amada, Soleste, filha do senhor do castelo em sua época. Separados pela classe social, o cavaleiro foi para batalha em busca de honra e prestígio na esperança de pedir a mão da mulher que amava, que estava prometida a outro por questões diplomáticas. Mas a jovem, que correspondia ao seu amor, achou que Moroello morrera em batalha e se atirou da fortaleza. O cavaleiro, por sua vez, ao saber da morte da amada, também se matou.

Em 1999, os estudiosos de parapsicologia Michele Dinicastro e Daniele Gullà, acompanhados por um médium, um biólogo e alguns técnicos de laboratório, registraram, em uma das 31 fotos tiradas com equipamentos especiais, uma misteriosa silhueta de um cavaleiro aflito – a presença do espírito foi sentida pelos médiuns no exato momento em que a foto foi feita.

A imagem revela um cavaleiro com armadura do século 15. Na parte inferior de seu busto, há uma escada ainda mais antiga. Cientistas afirmam que outras fontes de calor podem ter criado o vulto que lembra um cavaleiro. Mas os presentes na ocasião, refutam essa hipótese.

Castello di Rivalta

Segundo a lenda, o magnífico Castello di Rivalta é assombrado há quase 300 anos pelo fantasma do cozinheiro Giuseppe / Reprodução Castelli del Ducato

O Castello di Rivalta é uma majestosa residência senhoril que recebia hóspedes ilustres de toda a Europa, como as famílias reais da Inglaterra e da Holanda. Circundado por um magnífico parque, o castelo pertence ao vilarejo de Gazzola, a 14km de Piacenza.

A construção pertence ainda hoje à família Landi, que o detém desde o século 14. Os atuais proprietários são os Condes Zanardi Landi.

Roteiro

No vilarejo do Castello di Rivalta, estão disponíveis 12 quartos de luxo para hóspedes, além de numerosas casas românticas para o pernoite.

Totalmente mobiliado, o Castello di Rivalta abriga o Museu dos Trajes Militares, com uma seção dedicada a 90 divisões militares da Segunda Guerra Mundial.

O Castello di Rivalta permanece aberto o ano todo. Ingressos e outros detalhes aqui.

Lenda: O fantasma do cozinheiro Giuseppe

Desde o século 18 o Castello di Rivalta é assombrado pelo fantasma do cozinheiro Giuseppe, um ex-funcionário local, de inigualável talento.

Giuseppe foi brutalmente assassinado no calabouço do palácio e seu corpo só foi encontrado muito tempo depois. À noite, se ouve o espírito do cozinheiro vagando pelos corredores do castelo com o seu triturador de carne. Sua presença também se revela com o acender e apagar de luzes e de eletrodomésticos.

Castello di Gropparello

Entrada do Castello di Gropparello durante o inverno / Reprodução Castelli del Ducato

Em meio ao verde do Vale Vezzeno, o Castello di Gropparello encanta pelas belezas naturais que o circundam e pelas diversas atividades culturais que oferece. Trata-se de uma fortificação construída durante a Alta Idade Média, no século 8.

O castelo fica em Gropparello, a 27km de Piacenza.

Roteiro

Um dos destaques do Castello di Gropparello é a Sala dos Instrumentos Musicais. Ali estão um piano de cauda do século 19 fabricado por Pierre Erard, uma harpa do século 18, um cravo italiano, flautas barrocas retas e transversais, dentre outros.

O castelo oferece um pernoite na Torre del Barbagianni, entre a ponte levadiça e o pátio central.

Já no bosque aos arredores do palácio, está o chamado Parque das Fábulas. São 20 hectares que representam a atmosfera medieval dos cavaleiros, fadas, elfos e bruxas. O encanto também se faz presente nas surpresas que a mata apresenta, como em seus pequenos jardins e clareiras escondidos.

O espaço também possui o Museu da Rosa Nascente, com 108 variedades de rosas dentre suas 1350 plantas.

Ingressos e outras informações aqui.


Lenda: O fantasma de Rosania

Entre as muralhas do Castello di Gropparello vaga o espírito de Rosania, que foi morta pelo marido, Pietrone da Cagnano, senhor feudal da região, no século 11. O motivo do assassinato teria sido um caso extraconjugal entre Rosania e Lancillotto Anguissola, um antigo amor de sua juventude.

Segundo a lenda, em noites de chuva ou em dias nublados, Rosania aparece aos vivos para contar a sua história e buscar justiça e paz. Muitos turistas, ao visitarem o castelo, registraram o vulto de uma mulher em suas fotografias. As imagens estão publicadas no site oficial do palácio.

Com informações de Castelli del Ducato di Parma, Piacenza e Pontremoli

BRUNA GALVÃO é jornalista especializada em Itália / pittoresca@pittoresca.com.br

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