ITALIANIDADE PAULISTANA – Paulistanidade italiana

Inicio este ensaio refletindo sobre o título; o nome desta coluna: i-ta-li-a-ni-da-de-pau-lis-ta-na. E se o faço é porque, de uma hora para outra, a expressão me pareceu soar mais esquisita a um italiano do que a um paulistano.

Acompanhe meu raciocínio – e se você tem italianos em sua vida, vai saber do que eu estou falando: para eles, no fundo no fundo, só há um tipo de italianidade, ou seja, aquela identitária, indiscutível, tradicional, verdadeira, marca indelével da sua existência; uma “trademark” (e me perdoe se, dito assim, neste arroubo, essas coisas todas soem meio esnobes). Mas a verdade é uma só: para um italiano, uma coisa (ou pessoa) precisa carregar o “espírito” italiano para ser italiano; ou seja: ou se é, ou não se é italiano. E disso implica dizer que tudo o mais só pode ser coisa inventada, coisa de paulistano mesmo (dito aqui como uma constatação, não como uma ofensa ou elogio).

Paradoxalmente, é preciso dizer: se você tem italianos em sua vida (e em São Paulo), em algum momento você verá provas de que eles amam viver uma ou outra experiência que transcenda a eles mesmos… Algo que ouso nomear por agora como a “paulistanidade italiana”.

Ficou fácil entender este jogo de palavras? De toda forma, vou tentar facilitar mais para você:

Tomando como base os italianos que você conhece e convive, pode perceber a (quase total) inviabilidade de eles reconhecerem a italianidade como paulistana? Ou lhe parece mais sensato que eles estejam dispostos, com moderação, a aceitarem a nossa “paulistanidade” italiana? Ainda que ela seja uma coisa inventada?

Se você tem italianos em sua vida vai saber de que tipo de coisas estamos falando… Por ora, fique só com um exemplo, o mais fácil de todos, aquele que coloca à mesa a boa e velha “treta” gastronômica:

Qual a melhor pasta, a melhor pizza? O melhor gelato, o melhor cappuccino?

E que tudo fique bem claro, nada aqui é leviano, até porque, neste caso, o que está em jogo é eleger a melhor delícia gastronômica paulistana sob o forte critério e paladar italianos… Deve-se dar muito crédito a isso, sob pena de não cometer “crimes gastronômicos”.

Arrisco dizer a este ponto (e claro, considerando os italianos que estão em minha vida), que para eles a italianidade é uma “experiência” social e cultural, intimamente construída ao longo do tempo e através da história e da qual eles não abrem mão. É algo tão real, que é impossível de ser inventado como queremos nós, brasileiros. Não há a mínima possibilidade de “brincar” com isso.

O jogo que faço com as palavras que dão nome a esta coluna é só para dizer da força do abstrato, do espírito e do íntimo que há nesses termos.

Helenice Schiavon é designer educacional, especializada em projetos com storytelling e oralidade. Professora, pedagoga e locutora técnica, escreve ensaios sobre italianidade em São Paulo em Pittoresca.

Ouça o podcast Eu, Storyteller com os textos desta coluna aqui.

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