À convite de empresa local, Eduardo Kobra, um dos maiores grafiteiros do mundo, reproduziu a lenda em torno da imagem do santo que dá nome ao país
Do alto do Castelo del Faetano, Marino, Verissimo e Dona Felicissima observam as colinas do Monte Titano, terra da república mais antiga do mundo e que leva o nome do primeiro personagem: San Marino.
Os três integram um dos mais recentes murais de Eduardo Kobra, renomado grafiteiro brasileiro a nível internacional, inaugurado este mês. À convite da família samarinense Michelotti – que também foi retratada na ilustração-, o artista narrou a história do país em uma das paredes da SIT, empresa patrocinadora da obra, que comemora 50 anos de existência.
Imagem de San Marino com a estátua da liberdade e a bandeira da república será estampada em selo em novembro / Filippo Francini
Com 1300 metros quadrados de extensão, a intervenção já é um marco regional: em novembro, um trecho da pintura, onde aparecem o santo, a estátua da liberdade e a bandeira nacional, será estampada em selo em edição especial.
Também pudera: com 1721 anos de existência, completados no último 3 de setembro, San Marino é um dos países mais democráticos do mundo, reconhecidos pela Unesco. A liberdade é um dos símbolos da nação.
As cenas representadas no mural
Representação do trajeto de Marino: da Dalmácia até o Monte Titano / Filippo Francini
A versão tradicional sobre a história da Sereníssima República de San Marino narra a chegada de um jovem, de nome Marino, ao Monte Titano no ano de 257 d.C. Proveniente da ilha de Rab, na Dalmácia, atual Croácia, Marino atravessou o Mar Adriático e desembarcou em Rimini, na Itália, para trabalhar como pedreiro, mas logo decidiu se transferir ao Monte Titano para viver como eremita.
Verissimo, um caçador e filho da proprietária do Monte Titano, acertou uma flecha em Marino durante uma caçada e, imediatamente, ficou paralítico e cego. Mas Marino cura o filho de Dona Felicissima, que em agradecimento pelo milagre, lhe dá o Monte Titano como presente. Desta forma, a região ficou como herança a todos aqueles que viveram próximo de San Marino até sua morte, em 301 d.C.
Dona Felicissima, proprietária do Monte Titano e seu filho Veríssimo, o caçador, que atingiu Marino com uma flecha / Filippo Francini
O território em que a sociedade samarinense se consolidou sempre foi independente do domínio da Itália e do controle político da igreja – ainda que essa independência tenha sido ameaçada no decorrer dos séculos.
Tal heroísmo é representado por Kobra com San Marino entregando a liberdade ao povo: “relinquo vos liberos ab utroque homine”, está na bandeira do país – “livres do papa e do imperador”.
Outro marco da república foi a descoberta em 1893 de um tesouro do antigo povo ostragodo, no terreno do Castelo de Domagnano. Trata-se de um conjunto de móveis e objetos de arte de ourivesaria requintada dos séculos 5 a 6. Uma das peças mais famosas é uma fíbula em formato de águia. Conhecida como “Tesoro dei Goti”, os historiadores acreditam que a relíquia tenha pertencido a uma mulher da elite ligada à corte do rei ostragodo Teodorico (493-526 d.C.). No mural do grafiteiro brasileiro, é Dona Felicissima quem aparece com a águia do “Tesoro dei Goti”.
A Sereníssima República de San Marino
Pôr do sol em San Marino é um dos mais bonitos da Europa/ Visit San Marino
Localizada no coração da Itália, na região da Emilia Romagna, próximo a Bologna, a República de San Marino está situada a 755 metros de altitude no Monte Titano. Com uma superfície de 61 quilômetros quadrados é um dos menores países do mundo, sendo por isso, considerada uma Cidade-Estado. Sua capital é a homônima San Marino.
Apesar da língua oficial ser o italiano e de haver algumas semelhanças nos costumes locais com o país vizinho, San Marino se distingue da Itália no sistema de governo. A república é parlamentarista e possui dois chefes de Estado, sendo as eleições, semestrais. Outro contraponto é que mesmo utilizando o euro como moeda oficial, o microestado não pertence à União Europeia.
Ponto mais alto do Monte Titano, Castelo de San Marino é símbolo da república / Consolato San Marino Brasile
Com dois milhões de turistas por ano, não é preciso ter um visto para visitar o país, que oferece uma gama de opções em construções medievais, tradições, gastronomia, cultura, arte, esportes e natureza.
Dentre os destaques do território, estão seus nove castelos. Além dos já citados Faetano e Domagnano, o mais importante é o Castelo de San Marino, no topo do Monte Titano, com suas três torres, símbolo da nação. Em dias de céu azul, de suas imediações, é possível avistar a costa da Croácia ao longe, terra natal do santo que deu nome à Sereníssima República.
O Monte Titano traz ainda outras preciosidades: sua altitude e microclimas locais também permitem a produção de vinhos com uvas de terroir exclusivo. Isso sem falar no pôr do sol atrás de suas muralhas, tido como um dos mais bonitos da Europa. Eis a combinação perfeita: brindar ao pôr do sol samarinense com uma boa taça dentre seus melhores vinhos.
Imagem de capa: Filippo Francini
BRUNA GALVÃO é jornalista especializada em Itália / pittoresca@pittoresca.com.br