FINESTRA BITALIANA – Escola Genovesa de compositores: poesia e melodia que abraçam o coração da cidade

A música italiana está embebida de profunda poesia e emoção intensa, e entre suas joias mais preciosas está a Escola Genovesa de compositores [Scuola Genovese dei cantautori]. Trata-se de um movimento artístico que produziu uma série de compositores de extraordinário talento, cujas letras incisivas e melodias envolventes deixaram uma marca indelével na história da música italiana.

O coração desta Escola vai de encontro ao fascinante porto de Gênova e suas ruelas, uma cidade de mil faces que inspirou gerações de artistas. Um dos pilares fundamentais deste movimento é, sem dúvidas, Fabrizio De André. Seu estilo único, marcado muitas vezes por um toque de melancolia, deu voz a personagens marginais e a temas sociais negligenciados. Canções como “La canzone di Marinella” e “Bocca di rosa” contam histórias comoventes da vida real, embelezadas por uma profunda pesquisa poética. Aliás, sua música “Princesa” é inspirada no romance homônimo de Fernanda Farias de Albuquerque, com final em língua portuguesa.

Mas De André é somente um dentre os inúmeros talentos imersos na Escola Genovesa. Bruno Lauzi, por exemplo, soube pintar com a música um afresco da vida cotidiana, capturando a essência das emoções humanas. E tem ainda Umberto Bindi, autor de “Il nostro concerto”, uma música que atravessou gerações, abraçando cada uma com sua doce melancolia.

Um outro representante importante é, sem dúvidas, Gino Paoli com “Sapore di sale” e “Cielo in una stanza”. Luigi Tenco cantou o amor e a introspecção, mas também temas sociais como a imigração e, dentre suas canções, cito “Lontano, lontano”, “Ho capito che ti amo” e “Ciao amore ciao”.

Sergio Endrigo é, com certeza, conhecido no Brasil por ter cantado sucessos brasileiros traduzidos para o italiano, como “A Casa”, de Vinícius de Moraes, além das famosas “Io che amo solo te”, “Canzone per te” e “Ci vuole un fiore”. Um outro representante é Ivano Fossati, também ele um apaixonado pela América do Sul, que traduziu para o italiano músicas como “Águas de março” de Antônio Carlos Jobim e “Oh que será” de Chico Buarque. Outras canções importantes de sua autoria são “C’è tempo”, “La mia banda suona il rock”, “La costruzione di un amore” e “La canzone popolare”.

A Escola Genovesa de compositores não é somente um movimento musical, mas uma verdadeira janela para a sociedade italiana. As letras destes artistas abordaram temas como o amor, a amizade, a alienação, a pobreza e a injustiça, tratando a realidade com um olhar atento e profundo. A poesia de suas palavras tem o poder de criar reflexão e comoção, abrindo janelas sobre a complexidade da existência.

Apesar dos desafios e da mudança no panorama musical no decorrer dos anos, o legado da Escola Genovesa de compositores continua vivo. Suas músicas têm sido reinterpretadas pela nova geração de artistas e inspiraram diversas influências musicais. Esta Escola demonstrou que a música pode ser um meio potente de expressão e de mudança social ao unir palavras com notas em um abraço único de emoções e reflexões.

Em conclusão, a Escola Genovesa de compositores é um precioso patrimônio da música italiana, um brilhante farol que iluminou as nuances da alma humana e da sociedade. Suas canções permanecerão para sempre como um hino à poesia, à melodia e à humanidade que abraçam.

Daniele Donati é fundador da plataforma @bitaliano_
Professor, formador, autor de materiais didáticos e apaixonado por línguas estrangeiras, gastronomia e basquete. Em Finestra Bitaliana, escreve sobre música italiana.

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