Que baderna! Tchau, para vocês!

3 palavras italianas no Brasil com origens Pittorescas

A chegada massiva dos italianos ao Brasil no século 19 influenciou a cultura local em diversos aspectos, inclusive com a introdução de novos vocábulos, que não se resumem à palavra “pizza”.

Embora não haja um número exato de palavras de origem italiana no português falado no Brasil, não é exagero afirmar que dezenas delas foram incorporadas ao dia a dia dos brasileiros, como “espaguete”, “confete”, “alarme” e “poltrona”.

De todas elas, três se destacam por sua origem bem pitoresca – inclusive, a própria Pittoresca! Confira!

1- Tchau!

A interjeição “tchau”, muito usada no Brasil para despedidas informais, tem origem na palavra “ciao” em italiano, utilizada para o mesmo contexto. No entanto, despedir-se com “ciao” remonta ao antigo dialeto vêneto, cuja palavra original é “sciao”.

Mas a história do “tchau” não se encerra aí: “sciao” era a forma reduzida de “s’ciavo” em vêneto, “schiavo”, em italiano e “escravo” em português. Despedir-se com a expressão “sou seu escravo” (“sono schiavo vostro”) virou hábito, primeiro, na região do Vêneto a partir do século 16 e em toda a Itália, no século 19. Foi na Lombardia que a palavra ganhou a forma “ciao” pela primeira vez.

Durante o período conhecido como “grande imigração italiana no Brasil”, quando mais de um milhão de italianos chegou ao país entre 1874 a 1920, cerca da metade destes imigrantes eram do Vêneto e da Lombardia. Portanto, não foi difícil a propagação de “ciao” na nova sociedade ítalo-brasileira que se formava.

O blog do dicionário Zanichelli cita o impulso que a palavra ganhou ao ser utilizada na cultura de massa até meados do século 20. Um dos cantores italianos mais populares do mundo, o pugliese Domenico Modugno – famoso no Brasil pela canção “Volare” -, venceu o Festival de Sanremo em 1959 ao lado de Johnny Dorelli com a música “Piove”. O verso imortalizado na memória do público, que posteriormente foi traduzido para outros idiomas, diz “Ciao, ciao bambina”.

No mesmo período, o cinema italiano neorrealista e suas comédias também incorporaram a interjeição de despedida “ciao” como léxico informal de suas narrativas.

2- Baderna

Ao contrário de “tchau”, a palavra “baderna” é exclusiva do português brasileiro. A origem? Nada menos que o sobrenome da italiana Franca Anna Maria Mattea Baderna, a Maria ou Marietta Baderna.

Natural de Castel San Giovanni, na Emilia Romagna, Marietta tinha 21 anos quando se transferiu com seu pai para o Rio de Janeiro, em 1849. Pai e filha fugiam do conturbado cenário político que a Itália vivia na época e com o qual, se envolveram.

Bailarina de formação, a jovem italiana era um dos maiores nomes da dança na Europa. No Rio de Janeiro, não foi diferente. Iniciou suas apresentações no renomado Teatro São Pedro de Alcântara, hoje, Teatro João Caetano. O contato com a população local influenciou sua arte, que passou a incorporar elementos da dança afro-brasileira, um escândalo para a parte conservadora da época.

Para aumentar sua difamação, Maria Baderna passou a realizar apresentações de dança ao ar livre, como no Largo da Carioca, muitas vezes, ao lado de escravizados.

Não demorou para que a dançarina estrangeira sofresse boicotes durante suas óperas em casas oficiais. Seus fãs, ou “a turma da Baderna”, que eram muitos, protestavam nos teatros com muito barulho. Hoje, qualquer um que se expresse com bastante rumor e agitação em público, é tido como “baderneiro”.

3- Pitoresco

Ninguém tem dúvidas que Pittoresca é ítalo-brasileira! A palavra vem do italiano, “pittoresco”, que por sua vez, deriva de “pittore”, ou “pintor”. Trata-se de um termo que surgiu nas artes, durante o Romantismo, para se referir ao que era “semelhante ou feito como uma pintura”.

Conforme explica o projeto Una Parola Al Giorno, no início, a expressão era utilizada para expressar impressões subjetivas de prazer e curiosidade que as pinturas de paisagens despertavam no público ao serem contempladas.

Com o passar do tempo, houve uma generalização da palavra para se referir a qualquer coisa que despertasse tais impressões. Ler as matérias e colunas de Pittoresca, acompanhar nossa série em formato de reel que homenageia os 150 anos da imigração italiana no Brasil ou assistir nossas reportagens especiais são gatilhos que geram satisfação e instigam a curiosidade de nosso público. Assim, Pittoresca é pitoresca!

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