ITALIA INNOVATIVA – O Gênio Italiano – A incrível jornada de Berto Ebebeppe

Nesta edição de Italia Innovativa daremos uma visão geral de algumas invenções italianas que, ao longo do tempo, mudaram a vida em sociedade. A história italiana (e aqui incluo toda a tradição dos povos itálicos, a começar pelos romanos, cuja cultura é indiscutivelmente a mãe da cultura italiana) está repleta de invenções, de obras de gênios itálicos, que contribuíram de forma decisiva para os progressos científico, tecnológico ou, de modo mais amplo, social do mundo. Todos conhecem as “mentes” mais importantes, como a de Leonardo Da Vinci (pai dos primeiros protótipos de aviões, helicópteros, paraquedas, no século XVI!) e Galileu Galilei (além do famoso telescópio, inventou também a bomba hidráulica para elevar grandes quantidades de líquidos a níveis superiores). No entanto, poucos se lembram da contribuição dos “gênios menores” (mas nem por isso, “pequenos”), cujas invenções influenciaram, e continuam influenciando, nossas vidas de forma radical.

Faremos esta viagem pela genialidade itálica de forma irônica, com a história de um dia bem “particular” vivido por uma personagem imaginária: o engenheiro Berto Ebebeppe, habitante de Keebe, uma cidade igualmente imaginária, capital da República de Tuduia. Certo dia, Berto acorda em um mundo onde a Itália nunca existiu…

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Berto não usava o despertador. Adorava acordar com o badalar dos sinos da paróquia do bairro. Cientista, racional e agnóstico, não era um grande frequentador de igrejas. Mas o som dos sinos fazia-o se lembrar da infância, quando passava longos verões em Tabia, a cidadezinha de seus avós, onde o ritmo dos dias era marcado pelo badalar dos sinos. Talvez, também por isso, inconscientemente, tenha escolhido uma casa perto de uma paróquia. Durante a madrugada, tinha o costume de abrir um olho – ou um ouvido, melhor dizendo – para contar o badalar dos sinos que anunciavam o passar das horas e ficava feliz quando percebia que poderia cochilar um pouco mais. Quando o campanário tocava às seis, era hora de se levantar.

Naquela manhã, porém, acordou em silêncio, pois os sinos pareciam não tocar… Berto levantou-se e olhou para o relógio: “Sete e meia! Vou me atrasar para o trabalho!” Correu até a janela para tentar entender o que tinha acontecido… o campanário tinha desaparecido! A igreja não tinha mais sinos…

A invenção do campanário é atribuída a Paolino Bispo de Nola, no século V.

Berto Ebebeppe era um tipo muito cuidadoso e higiênico. Acreditava que a higiene pessoal não se tratava apenas de um cuidado pessoal, mas de um sinal de respeito com a sociedade, para com as pessoas que encontramos todos os dias no ônibus, no bar, no escritório. Mesmo tendo acordado tarde, nada o impediria de tomar um banho rápido. Então foi para o banheiro, entrou no box, mas para sua enorme surpresa, não viu nem as torneiras e nem o chuveiro.

Foram os antigos romanos, com suas engenhosas obras arquitetônicas, que construíram os primeiros aquedutos para abastecer as domus (casas) e cidades com água corrente e limpa. Além disso, ainda na Roma Antiga, foram inventadas as primeiras torneiras mistas, capazes de transportar água quente e fria retirada de dois tanques diferentes de forma simultânea.

Berto Ebebeppe, ainda incrédulo com o que estava acontecendo, pegou alguns lenços umedecidos e se limpou como pode. Então correu até a cozinha. Como desjejum, costumava tomar um bom café, acompanhado de uma grande fatia de pão com creme de chocolate. Caso não comesse nada pela manhã, sentia-se lento durante o dia. Ainda que comesse rápido, não se privaria daquele pequeno prazer (adorava a combinação dos aromas do café e do chocolate) e, muito menos, da indispensável ingestão de cafeína e açúcar que considerava o combustível necessário para uma longa jornada. Vocês devem entender a sua decepção quando não encontrou na cozinha nenhum vestígio de seu desjejum preferido: nada de moka, nem da máquina de café expresso e nem do cheiro da Nutella, que ele estava certo de ter comprado no supermercado quando voltou para casa na noite anterior…

A máquina de café expresso foi inventada em 1901 por Luigi Bezzera; a moka, por Luigi de Ponti para a Bialetti em 1933. Em 1951, a empresa italiana Ferrero introduziu no mercado o SuperCrema Giandujot, que evoluiu em 1963 para a famosa Nutella.

“Começamos bem este dia! – exclamou Berto – nada de banho e nem de café da manhã… o que significa que terei que comer alguma coisa no bar ao lado”. Mas o bar ao lado também havia desaparecido, assim como o campanário, o chuveiro, a máquina de café… No lugar do bar, Berto encontrou uma sapataria.

Segundo muitas fontes, o primeiro a usar a palavra “BAR” foi um empresário italiano, Alessandro Maranesi, que em 1898 abriu o primeiro “BAR” em Florença, usando as três letras como sigla para “Banco A Ristoro” [“balcão para se refrescar”, em tradução livre – Nota da tradutora].

Ainda que, ironicamente, nosso engenheiro Ebebeppe tivesse procurado um café fora da atmosfera terrestre, na esperança de encontrá-lo em alguma estação orbital avançada, não teria tido sorte: a máquina de café expresso no espaço, a ISSpresso, foi inventada pela empresa Argotec em 2015 para a Estação Espacial Internacional.

Berto, desconsolado, dirigiu-se à garagem. Ele trabalhava em um centro de pesquisa especializado em sismologia. Os laboratórios abriam às oito e ele já estava bem atrasado. Entrou em seu carro, um velho spider que pertenceu ao seu pai, ao qual era muito apegado e, por isso, cuidava com extremo zelo. “Mais dois anos e poderei registrá-lo como um carro de época”, disse em voz alta, como se o veículo pudesse ouvi-lo e entendê-lo. Girou a chave, mas não ouviu o som da partida. “A bateria está descarregada?” perguntou ao spider, quase à espera de uma resposta. Desceu, tirou os cabos do carregador de bateria, abriu o capô, mas… a bateria não estava lá…

A bateria elétrica foi inventada por Alessandro Volta em 1799.

No entanto, o que mais impressionou o engenheiro Ebebeppe não foi o desaparecimento da bateria, mas a total ausência do motor! Naquela manhã, o que tinha sobrado do carro era apenas a carroceria vermelha brilhante, o interior de couro bege e o capô preto. Havia também luvas na gaveta do banco do passageiro. Mas o compartimento do motor estava vazio! Dava para ver através dele o piso de linóleo cinza da garagem. Do prestigiado seis cilindros com duplo comando no cabeçote, uma maravilha da engenharia mecânica, nenhum sinal!

O motor de combustão interna foi inventado por Eugenio Barsanti e Felice Matteucci, que o patentearam em 1853 (muitos pensam que Carl Benz e Nicolaus Otto inventaram o motor de combustão interna, mas eles apenas o aperfeiçoaram, e somente muitos anos depois, em 1886).

Berto então desviou o olhar para o outro lado da garagem, onde costumava estacionar sua Vespa. Ela também era vintage, uma Sprint 150cc azul-claro de 1967, com a qual o nosso engenheiro sonhava tirar um ano sabático para dar a volta ao mundo. “A Vespa é indestrutível – repetia sempre aos seus amigos céticos – mesmo um modelo de quase sessenta anos pode facilmente enfrentar um longo percurso, bastando apenas um pouco de atenção e manutenção razoáveis”. Ele ficou atônito, sem palavras, quando viu no lugar da sua amada scooter uma velha bicicleta…

A Vespa foi inventada por Corradino d’Ascanio em 1946 para a Piaggio.

“Vou de bicicleta”, pensou. Era impensável faltar ao trabalho. Nos laboratórios, estavam trabalhando com experimentos importantes para a prevenção de desastres por terremotos e tsunamis, e, naquele dia, estava programada uma atividade muito importante de medição de tremores tectônicos, da qual era ele o responsável. De todo modo, estava a doze quilômetros de distância dos laboratórios. O jeito era ir de bicicleta. “Tenho que avisar sobre o atraso”, pensou enquanto procurava o celular no bolso…em vão. “Talvez eu o tenha deixado em casa…”. Correu de volta ao apartamento, mas não o encontrou. Também não conseguia achar o telefone fixo. Não podia avisar os colegas que o esperavam sobre o seu atraso.

O telefone foi inventado por Antonio Meucci em 1871 (o americano Graham Bell foi o primeiro a patenteá-lo, mas apenas em 1876).

Berto Ebebeppe começou a se sentir desconfortável com a forma como o dia havia começado. Muitas coisas estranhas. Mesmo na rua, tinha a sensação de que faltava alguma coisa, como se o ambiente e as pessoas estivessem diferentes. Somando-se à agitação por estar atrasado para o trabalho em um dia incomum, começou a entrar em pânico. “Uma boa pedalada vai me fazer bem, vai clarear minhas ideias!”, exclamou em voz alta enquanto subia na bicicleta. Seu vizinho, um escritor estrangeiro que se chamava Arduino Eporediese, soltou um suspiro por não esperar a exclamação improvisada do normalmente silencioso engenheiro Ebebeppe.

Berto começou a pedalar. Quando conseguiu avançar com facilidade pelas planícies com as pedaladas, procurou a marcha para melhorar a tração, mas não a encontrou. A bicicleta não tinha marchas. “Estranho – refletiu – que bicicletas hoje não têm marcha?”.

A marcha para bicicletas foi inventada por Tullio Campagnolo em 1935.

Brincando com si mesmo, pensou “pelo menos, ao andar nesta velocidade absurda, o radar fixo na Rua del Sumito não vai me fotografar… hehehe…”

Não se preocupe Berto, o radar foi inventado pela empresa Sodi Scientifica em Florença na década de 1960.

Berto chegou ao laboratório às oito e quarenta. Toda a sua equipe estava pronta há mais de meia hora. “O que aconteceu?”, perguntou Gianco Mimimmi, um geólogo quatro-olhos, seu principal colaborador e coordenador de equipe. “Está tudo bem? Você está pálido.”

“Não foi nada – interrompeu Berto – ou demoraria muito para se explicar. Estou bem de qualquer forma. Você preparou todo o equipamento para o experimento? Os sismógrafos foram calibrados?

“Os sismo o quê? – perguntou Gianco, espantado – o que é isso?

“Os sismógrafos…” Berto gaguejou, com um estranho pressentimento… Entrou no laboratório e não viu aqueles instrumentos caríssimos que conseguira comprar – ou, pelo menos, estava convencido até a noite anterior de que os havia comprado – graças ao incansável trabalho de arrecadação de fundos que finalmente levou a um financiamento especial da faculdade de geofísica da Universidade de Keebe.

O sismógrafo eletromagnético foi inventado por Luigi Palmieri em 1857; já em 1902, o geólogo Giuseppe Mercalli desenvolveu a primeira escala para medir a intensidade macrossísmica de um terremoto, observando os danos e as modificações produzidas por ele (a Escala de Mercalli).

“Esqueça o sismógrafo – disse Berto a Gianco – você já definiu os parâmetros de cálculo nos computadores?”

“Computador? O que é um computador?”, perguntou Gianco, preocupado com a confusão do chefe. “De qualquer forma, é claro que estabeleci os parâmetros de cálculo”, acrescentou, entregando a Berto uma pilha de folhas de papel repletas de números e fórmulas.

O “Programma 101 Olivetti”, precursor do PC, foi inventado por Pier Giorgio Perotto em 1965; o microchip, por Federico Faggin em 1971.

“Estamos bem! – exclamou Berto – o que significa que faremos todos os cálculos à mão… à moda antiga”.

“Antiga?” perguntou Gianco?

“Deixa pra lá. Vamos trabalhar, está ficando tarde”, retrucou Berto.

O dia foi muito, muito longo. A equipe passou horas a fio revisando as medições dos efeitos do terremoto em várias cidades da República de Tuduia. Todos os cálculos foram feitos à mão, com lápis e papel, como Berto não fazia há anos. No entanto, ele ficou surpreso quando seus colaboradores se contiveram diante de uma equação simples de segundo grau. Todos exclamaram “impossível continuar, é um problema insolúvel…”

O primeiro a resolver uma equação de segundo grau foi Ludovico Ferrari em 1545.

Ao final do dia, apesar da ausência de sismógrafos e ferramentas informáticas, a equipe conseguiu concluir a experiência. O Diretor-Geral, a quem deveriam apresentar os resultados do trabalho, chegaria às sete e meia. Berto olhou para o relógio: eram seis e quarenta e um. “Vamos por uma música”, disse se dirigindo para o lado do laboratório onde guardavam um velho rádio vintage, um Grundig 5150 de 1952, que Berto tinha restaurado pessoalmente e que, apesar da idade e do fato de ser “mono”, ainda funcionava que era uma beleza. Em seu lugar, encontrou uma chaleira sem marca com água para o chá. Sem questionamentos, imaginou que ele havia desaparecido como tantas outras coisas do dia. Estava começando a compreender aquele dia como um absurdo ao modo filosófico. Afinal, o que mais lhe poderia acontecer? Era óbvio que se contasse aos outros o que estava ocorrendo, eles o chamariam de louco.

O rádio foi inventado por Guglielmo Marconi em 1897.

Então voltou a si e perguntou a Gianco se tinha notícias da chegada do Diretor-Geral: “Seu helicóptero já deveria estar no radar a uma hora destas…”, disse. O diretor não vivia do salário de gerente de uma instituição pública de pesquisa. Como herdeiro de uma família muito rica, poderia pagar um voo de helicóptero. Como morava fora da cidade, tinha o hábito de voar da casa para o laboratório, algumas vezes, para economizar tempo.

Gianco, cada vez mais alarmado com o comportamento de Berto, respondeu: “Radar? Helicóptero? Mas o que são? Berto, hoje você está estranho, eu realmente não te entendo… você sabe que o Diretor-Geral mudou-se recentemente para uma casa aqui perto e sempre vem a pé”.

O radar foi inventado por Guglielmo Marconi (sim, o mesmo do rádio) e Ugo Tiberio em 1936, enquanto o helicóptero foi inventado por Corradino d’Ascanio (sim! O mesmo da Vespa!) em 1925.

Apesar da agitação do dia, Berto fez uma boa apresentação e o Diretor ficou satisfeito com o resultado da experiência. Eram vinte e trinta. Berto, exausto pela longa jornada, achou que deveria relaxar, já que estava com a cabeça explodindo.

Nada melhor nestes casos do que uma música clássica. Fugiu literalmente do laboratório e dirigiu-se ao Teatro Lírico, para o qual tinha um ingresso de temporada. Lembrou-se que o programa da noite incluía um concerto de música barroca com piano e cordas, seus instrumentos preferidos, às nove horas. Correu até a bilheteira, reservou o seu lugar na plateia e sentou-se para desfrutar de umas merecidas horas de música. Para sua surpresa, não havia nenhum piano no palco. Nenhum violinista. Apenas um sanfoneiro apareceu: “Sanfona? Mas eu abomino a sanfona!”, pensou.

O violino foi inventado por Andrea Amati em 1500, enquanto o cravo (precursor do piano) foi inventado por Bartolomeo Cristofori em 1700.

Cada vez mais aquele dia lhe parecia uma espiral perversa de acontecimentos nefastos, inexplicáveis e perturbadores. Praticamente um pesadelo. Ouviu algumas melodias de sanfona, mas depois de não mais que um quarto de hora, o som do odiado instrumento aumentou sua dor de cabeça. Saiu e percebeu que a agitação do dia o fizera esquecer a fome. Não tinha comido o dia todo. Nem mesmo o café da manhã, que ele considerava “sagrado”. Agora sentia um buraco quase doloroso em seu estômago. Lembrou-se que não muito longe do teatro funcionava a pizzaria “do Ciro”, um restaurantezinho simpático onde, na semana anterior, levara Priscilla, uma ex-colega de classe que agora trabalhava no departamento de trânsito e por quem tinha uma queda . Era uma moça muito bonita, metade italiana e com muito senso de humor, que já o atraía na adolescência, mas a quem ele nunca teve coragem de se declarar.

Ele a reencontrou vinte anos depois do ensino médio, quando foi renovar a carteira de motorista e chamou sua atenção contando uma piada. Uma abordagem meio desajeitada, mas que nesse caso surtiu o efeito desejado: Priscilla riu de verdade e a partir daí se restabeleceu um ar de cumplicidade como nos tempos de colégio. A noite que passaram “no Ciro” foi muito agradável e ficou indelevelmente gravada na memória de Berto. “Terei que convidá-la novamente e precisarei me declarar. Priscila é uma mulher fantástica”, pensou.

Virou a esquina, mas ao invés da pizzaria “do Ciro”, encontrou uma loja de ferragens…

A pizza Margherita, a mãe de todas as pizzas, foi inventada por Raffaele Esposito para homenagear uma visita da Rainha da Itália, Margherita de Savoia, em Nápoles, em 1889.

“Isso significa que?…” virou-se para o outro lado da rua onde havia o “Iglu”, sua sorveteria favorita, também desaparecida e substituída por um petshop. O olhar de Berto se fixou em um carrinho para cachorros, exposto na vitrine. “Um carrinho pra cachorro? – pensou, distraindo-se por um momento do desespero da fome – mas quem compra um carrinho para cachorro?”

A casquinha de sorvete foi inventada por Italo Marchioni em 1896, mas o sorvete é, na verdade, uma invenção dos romanos, que já em tempos antigos costumavam armazenar flocos de neve em ambientes frescos ao final do inverno para depois misturarem-nos a sucos e aromas e toma-los como refresco.

“Que pena… um bom sorvete talvez me reconciliasse com este mundo maluco…” pensou, esquecendo-se instantaneamente da visão indecente do carrinho de passeio canino. Por sua vez, o engenheiro Ebebeppe, uma pessoa racional, tinha apenas um ponto fraco: comprar bilhetes de loteria. E comprava-os, supersticiosamente, apenas no caixa da sorveteria “Iglu”, já que uma vez, muitos anos antes, uma cartomante que conheceu por acaso durante uma viagem ao Oriente, previu que um dia encontraria sua sorte comendo um sorvete. A partir desse dia, concedeu-se esta licença propiciatória única, dentro de uma vida lógica e cartesiana, comprando sempre um bilhete de loteria a cada vez que tomava um sorvete no “Iglu”.

De qualquer forma, a loteria foi inventada por Benedetto Gentile em 1576.

Sem consolo, Berto decidiu voltar para casa. Comeu algumas sobras da noite anterior: meia porção de goulash, um pouco de queijo e uma salada verde. Sentiu, então, desejo por um banho relaxante. Em seu último aniversário, ele se deu um presente caro, mas funcional, para o seu bem-estar: uma banheira de hidromassagem. Pela manhã notara o sumiço do chuveiro, mas no alvoroço daquele dia, não percebera se a banheira ainda estava no lugar. Abriu a porta do banheiro e… encontrou apenas uma velha bacia, daquelas que se enchem com baldes e que agora só se veem nos filmes de faroeste, quando os cowboys tomam o único banho do ano (geralmente antes do festival do povoado, que terminará com um habitual tiroteio sangrento).

A banheira de hidromassagem foi inventada por Candido Jacuzzi em 1943.

A bacia foi a gota d’água. Devastado por aquele dia exaustivo e cheio de imprevistos inacreditáveis, Berto gritou, meio de brincadeira, meio a sério: “E agora? Só me falta bater um prego na cabeça!”.

Mas mesmo que os tivesse procurado em sua caixa de ferramentas, não os teria encontrado. Os pregos de metal foram inventados pelos romanos

Exausto, Berto permitiu-se ir para a cama, pensando em todas as coisas que precisava e que haviam sumido naquele dia. A ausência de muitas invenções hoje necessárias à vida moderna fez com que um ditado de Platão zumbisse em sua cabeça: “A necessidade é a mãe das invenções”. Começou repetindo, primeiro mentalmente, depois sussurrando as palavras daquela frase… “A necessidade é a mãe das invenções”… “A necessidade é a m…”. Aos poucos, o cansaço se apoderou e suas pálpebras ficaram pesadas. Ainda vestido, com os sapatos calçados, caiu em sono profundo.

“Din, don, dan, din, don, dan…” Berto acordou com seis badaladas do sino. Ele se levantou. Estava com uma forte dor de cabeça. Eram seis horas! Olhou pela janela e viu o campanário. Ligou também o rádio-despertador, que às vezes ligava quando queria ter a certeza de ser acordado durante dias importantes em que não podia depender do badalar dos sinos. Foi para a cozinha preparar seu café da manhã e enquanto saboreava seu café com pão e Nutella, seu celular tocou. Era o Gianco: “Ei, Berto! Só queria ter certeza de que você acordou. Temos um dia cheio pela frente hoje.”

Após as abluções matinais, saiu em sua Vespa e passou em frente ao “Iglu”. A sorveteria já estava aberta e ele estava adiantado. Disse para si mesmo “mas por que não?” e depois, parou para tomar um sorvete: uma casquinha de pistache, morango e avelã. Precisava matar a vontade. Aproveitou para comprar o bilhete de loteria (mas não ganhou). Ao sair, ouviu uma voz que o chamava: “Bertooo! Oooooi, como vai?”. Por trás de um sorriso enorme e lindo, estava Priscilla.

“Claro que o mundo sem os italianos seria um pesadelo…” pensou, Berto, com um sorriso.

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Confira o vídeo sobre as extraordinárias invenções italianas!

Domenico Fornara é Cônsul Geral da Itália em São Paulo.

Escreve mensalmente sobre tecnologia e inovação em Italia Innovativa.

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