“Ainda temos o amanhã”, de Paola Cortellesi, está em cartaz no 18º Festival de Cinema Italiano no Brasil
Em cartaz até 9 de dezembro, o 18º Festival de Cinema Italiano no Brasil exibe quatro filmes dirigidos por mulheres em um total de 16 na programação da mostra contemporânea: Billy, de Emilia Mazzacurati, Primadonna, de Marta Savina, A terra das mulheres (La terra delle donne), de Marisa Vallone e Ainda temos o amanhã (C’è ancora domani), de Paola Cortellesi. Lançado no final de outubro na Itália, este último, já é o filme mais visto no país europeu, batendo recorde de público e de faturamento: em apenas 15 dias, 1 milhão de espectadores assistiram ao longa nas salas de cinema italianas, o que levou a obra a faturar mais de 7 milhões de euros.
Os números surpreendem ao refletirem um cenário nada habitual: além de ter uma mulher na direção do longa, é o primeiro trabalho de Cortellesi atrás das câmeras – ela, que é uma conceituada atriz, também interpreta uma personagem na trama. Outro ponto que rompe com as tendências de mercado é ter sido filmado todo em preto e branco.
Apesar de tanto sucesso, dados do Mercado Cinematográfico 2022 relativos ao top 100 dos filmes distribuídos na Itália no ano passado mostram que apenas 12 obras foram dirigidas ou codirigidas por mulheres. Dentre estes longas, dois foram exibidos no Brasil na edição passada do Festival: O Colibri (“Il Colibri”), de Francesca Archibugi, um dos maiores nomes femininos do cinema italiano atual e Setembro (“Settembre”), de Giulia Steigerwalt.
“Embora haja mudanças positivas e uma maior inclusão de mulheres no cinema, estas mudanças são, muitas vezes, graduais. A indústria cinematográfica, como muitas outras, leva um tempo para se adaptar e evoluir. A presença crescente de mulheres no cinema italiano é um sinal encorajador deste progresso. No entanto, ainda há um longo caminho para alcançarmos a igualdade de gênero na indústria cinematográfica. Mas não só na Itália”, afirma à Pittoresca Erica Bernardini, curadora do Festival de Cinema Italiano no Brasil.
A curadora do Festival de Cinema Italiano no Brasil, Erica Bernardini
No entender de Bernardini, o fato do mercado cinematográfico italiano e mundial ser dominado pelo sexo masculino tem origens históricas e contemporâneas. Segundo ela, como homens são considerados para ocupar posições de liderança, como direção e produção, isso acaba por perpetuar a disparidade de gênero no setor.
Com exceção de Billy, os demais filmes em cartaz assinados por diretoras no 18º Festival de Cinema Italiano no Brasil têm em comum temáticas que colocam a mulher no centro do debate. Assim, levantam temas sociais que passam pela violência de gênero física e psíquica, como a submissão ao marido ou o casamento de reparo após estupro. Ao mesmo tempo, as protagonistas femininas das obras também ilustram histórias de superação e de quebras de paradigmas.
“É crucial que Festivais como o nosso, continuem a destacar e a celebrar o trabalho das mulheres para inspirar e encorajar a próxima geração de cineastas femininas. Como curadora do Festival de Cinema Italiano no Brasil, estou comprometida a promover a diversidade e a inclusão, garantindo que vozes femininas sejam ouvidas e celebradas através de nossas seleções de filmes e projeções. Espero inspirar muitas mulheres a entrarem no mundo do cinema”, finaliza Bernardini.
Os longas mencionados estão disponíveis gratuitamente no site do Festival, em sua 18ª edição. Confira a sinopse de cada obra:
Ainda temos o amanhã (C’è ancora domani)
Direção: Paola Cortellesi
Elenco: Paola Cortellesi, Valerio Mastandrea
País: Itália
Ano: 2023
Duração: 118 minutos
Gênero: Drama
Em uma Roma pós-guerra dos anos 40, dividida entre o otimismo da libertação e as misérias, vive Delia, uma mulher dedicada esposa de Ivano e mãe de três filhos. Esses são os papéis que a definem e ela está satisfeita com isso. Enquanto seu marido Ivano age como o chefe autoritário da família, Delia encontra consolo em sua amiga Marisa. A família se prepara para o noivado da filha mais velha, Marcella, que vê no casamento uma saída para uma vida melhor. No entanto, a chegada de uma carta misteriosa dá a Delia a coragem para questionar seu destino e de sua família e, talvez, encontrar sua própria liberdade. Entre segredos e reviravoltas, este drama emocionante explora o poder do amor e da escolha em tempos difíceis.
Billy
Direção: Emilia Mazzacurati
Elenco: Matteo Oscar Giuggioli, Carla Signoris, Alessandro Gassmann, Giuseppe Battiston
País: Itália
Ano: 2023
Duração: 97 minutos
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Billy era um jovem prodígio. Aos nove anos, ele criou e apresentou um podcast musical de grande sucesso. Agora, aos 19 anos, Billy enfrenta uma crise de identidade e incerteza sobre seu futuro. Ele vive com sua excêntrica mãe, tem uma paixão secreta por uma garota e se relaciona principalmente com crianças entre 8 e 12 anos. Tudo muda quando ele tem um encontro inesperado com seu ídolo de infância, um músico desaparecido há anos. Esse encontro leva Billy a repensar seu caminho e encontrar uma nova perspectiva para enfrentar o futuro. No entanto, nem sempre as coisas acontecem como esperamos, e Billy terá que lidar com desafios e descobrir seu verdadeiro destino.
Primadonna
Direção: Marta Savina
Elenco: Claudia Gusmano, Fabrizio Ferracane, Francesco Colella, Manuela Ventura
País: Itália / França
Ano: 2022
Duração: 102 minutos
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos
No cenário da Sicília dos anos 60, Lia Crimi é uma jovem de 21 anos que reage à mais terrível das violências com um ato de rebeldia que abalará as convenções sociais de sua época. Em um mundo onde prevalece a lei do mais forte, a máfia está enraizada e aceita como parte natural da vida, os poderosos decidem e os mais fracos obedecem, sua coragem abrirá caminho para a luta pelos direitos das mulheres.
A terra das mulheres (La terra delle donne)
Direção: Marisa Vallone
Elenco: Paola Sini, Valentina Lodovini, Alessandro Haber, Jan Bijvoet
País: Itália
Ano: 2023
Duração: 104 minutos
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos
Em uma Sardenha rural durante a Segunda Guerra Mundial, vive Fidela, a sétima filha, uma mulher considerada uma bruxa pela tradição popular. Ela encontra amor e conexão com a terra e a água, mas também enfrenta o desafio de ser diferente em uma sociedade que busca conformidade. Quando Fidela se torna mãe de uma criança confiada a ela, sua vida é transformada e ela descobre a força de sua própria identidade. Uma história envolvente sobre empoderamento feminino, aceitação, maternidade e a busca pela verdadeira liberdade.