ITALIANIDADE PAULISTANA – Cálido e doce

Juro que não era minha intenção começar este texto recorrendo a um clichê, mas vai ter que ser assim, mesmo porque é a pura verdade – e digo isso rápido para não parecer bobo: “Bruna Galvão e Paola Capraro, grazie di cuore por aceitarem o meu convite”.

Isso mesmo, convite. E já esclareço: não se trata de um convite daqueles que você conhece – tradicional e do tipo: “Helenice, você poderia nos dar a honra de fazer parte do time da Revista Pittoresca?”

Não… Não foi desse jeito, pois que se pareceu mais com um “autoconvite”, do tipo: “tem um lugarzinho pra mim aí neste projeto da Revista? ”

De toda forma, elas disseram sim, e cá estou, fechando o ano com o 13º ensaio. Uma alegria que me concedo e quero compartilhar com você.

Escrever sobre italianidade não é fácil para mim. As memórias estão distorcidas pelo tempo e preciso esticar seus fios (até não poder mais) para trazê-las ao tempo presente; ainda que eu as sinta profundamente.

Fácil entender: não conheci meu avô italiano, morto dois anos antes do meu nascimento… Da minha avó Adélia (Adele, pelos registros), me lembro mesmo era das suas tranças, das suas saias, do seu sotaque arrastado e dos sorvetes que a gente tomava na Praia Grande, onde, até os 17, passava com ela as férias de verão…

Isso só não é mais difícil porque, por sorte, o meu cotidiano se encheu de uma italianidade, no mínimo, “pittoresca”: hoje, tenho amici italiani que já são tão paulistas quanto eu, e os ares do verão vão fazer retornar da Itália um filho que pisará novamente em terras paulistanas – e para quem quero reapresentar São Paulo.

Escrever sobre italianidade mexeu comigo. Tirou o pó das fotografias, me fez vasculhar gavetas, conversar com parentes, esforçar os olhos para ler os documentos amarelados pelo tempo… Me fez saltar o coração e marejar os olhos… Exigiu que eu comprasse post-its coloridos, emendasse papéis e encontrasse um lugar espaçoso na escrivaninha – tudo para descobrir mais fácil a genealogia da família…

Essa escrita pediu de mim um coração quente, destemido e pronto a dar muitos suspiros e risos… Movimentos essenciais para que eu encontrasse um lugar cálido e doce para essa minha italianidade.

Helenice Schiavon é designer educacional, especializada em projetos com storytelling e oralidade. Professora, pedagoga e locutora técnica, escreve ensaios quinzenais sobre italianidade em São Paulo em Pittoresca.

Ouça o podcast Eu, Storyteller com os textos desta coluna aqui.

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