Caravaggio: 400 anos de polêmica

Trechos da conturbada biografia do pintor começam a ser reescritos somente neste século

Caravaggio, o gênio “maledetto”, volta à cena com o longa A Sombra de Caravaggio (L’Ombra di Caravaggio), que está disponível gratuitamente via streaming dentro da programação do 18º Festival de Cinema Italiano entre 8 de novembro a 9 de dezembro.

Dirigido por Michele Placido, o filme, lançado na Itália em 2022 e inédito no Brasil, inspira-se em um trecho da conturbada vida do pintor Michelangelo Merisi (1571-1610), conhecido como Caravaggio. Ambientado nos primeiros anos do século 17, e tendo Riccardo Scamarcio no papel principal, a obra aborda o assassinato de Ranuccio Tomassoni cometido pelo artista em 1606, que após o crime, aguarda o perdão papal para escapar da sentença de morte.

Não é novidade a genialidade artística de Caravaggio em confronto com sua vida transgressora, sempre envolvido em brigas e confusões. Muito do que se sabe sobre sua biografia está em registros criminais. Outros fatos são controversos ou permanecem em mistério. Mas dois pontos cruciais de sua história foram solucionados recentemente.

400 anos de latência

Riccardo Scamarcio na pele do pintor em “A Sombra de Caravaggio”

Algumas curiosidades sobre o pintor foram comprovadas apenas no século 21. Durante 400 anos, acreditava-se que Michelangelo Merisi fosse natural da cidade lombarda de Caravaggio. Porém, em 2007, a biografia sobre o pintor precisou ser reescrita: um documento encontrado no Arquivo Diocesano de Milão indica o local de nascimento e batismo do artista naquela cidade. O atestado informa sobre o batizado de um menino em 30 de setembro de 1571 na presença de seu padrinho, Francesco Sessa e de seus pais, Fermo Merisi e Lucia degli Oratori. O papel indica que a criança nasceu um dia antes, em 29 de setembro, dia de San Michele Arcangelo (São Miguel Arcanjo, em português), daí a escolha do nome, Michelangelo.

E de onde veio o nome artístico Caravaggio? Simples: foi lá que seus pais se casaram, antes de se mudarem, poucos meses antes de seu nascimento, para Milão. Caravaggio considerava-se originário da cidade. Tanto, que quando foi declarado Cavaleiro de Malta, intitulou-se: “Michael Angelus… oppido vulgo de Caravaggio in Longobardis natus”.

Se a terra natal do artista foi devidamente comprovada, a causa de sua morte só foi descoberta três anos mais tarde, em 2010. Até então, não se sabia, de fato, o que levou o pintor a morte aos 38 anos, em julho de 1610, na Toscana. Ao contrário do que mostra o filme em cartaz no Festival de Cinema Italiano sobre o fim do protagonista, as especulações sugeriam a causa do óbito por sífilis. No entanto, um exame de DNA conduzido por cientistas franceses e italianos nos restos mortais de Caravaggio provou que o gênio morreu de uma infecção bacteriana ocasionada por ferimento de espada – ocorrido, possivelmente, durante (mais) uma briga.

Além de crimes e confusões, temas em torno de sua sexualidade também são constantes quando se aborda a sua biografia. Apesar de existirem controvérsias sobre o assunto, a teoria mais aceita por historiadores – e sempre mostrada em filmes – é que Caravaggio fosse bissexual.

Com informações de Arte.it

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