Este é um assunto delicado. Bem, ao menos penso que o seja. E sobre ele quero falar uma verdade, embora eu saiba que tudo possa ter dois lados, duas versões… Às vezes até mais. Mas, verdade seja dita: nós, brasileiros – e destaco também os paulistanos –, somos meio bobos quando se trata de “coisa gringa”.
Não questiono esse nosso deleite pelas coisas que vêm de fora… Principalmente no caso de São Paulo, tão cosmopolita.
Não sei se me entende, mas é fato que, paixões à parte, a gente exagera nisso de valorizar as coisas estrangeiras. Como consequência, quase todo mundo no mundo “tem-ou-faz-algo-que-a-gente-também-tem-ou-faz”. Ou então, que faz melhor… Pense bem, tem os americanos, os chineses, os franceses, os espanhóis, os italianos…
Acho que essa ideia de que nossa nação é jovem demais, de que o Brasil é o filho mais novo dentre essa grande família de nações, acabou pegando a gente de jeito…
Eu mesma, por exemplo: em casa, quando pequena, aprendi que a humildade é a virtude número 1 (lição aprendida antes ainda por meus pais, cujos genitores, havendo vivido as durezas e a escassez da guerra, aprenderam o valor da suficiência). Essa convicção, levei-a para a idade adulta. O resultado disso é uma certa mania de me desculpar com as coisas: “Desculpe-me se a incomodo…”; “Desculpe falar, mas …” A mania crônica* de me desculpar é só decorrência dessa ideia de que o que temos é o suficiente – e de que o outro certamente tem mais.
Poderia ser uma virtude, não fosse um exagero.
Nesse sentido, aprendi muitas coisas com os italianos – valorizar as coisas da Terra, as coisas locais, os lugares, a história, a Língua e a Cultura. Aprendi a importância da memória – a não esquecer o que se tem, o que se passou, o que se vale; para dizer o certo. Porque, às vezes, convencer-se de que se “tem o suficiente” é pouco; muito pouco.
*Nota: não faz muito tempo que levei um puxão de orelha de um amigo verdadeiro – brasileiro e professor de italiano – sobre essa minha “mania crônica” de humildade. Desde então, tenho ficado de olho nos meus exageros.
Helenice Schiavon é designer educacional, especializada em projetos com storytelling e oralidade. Professora, pedagoga e locutora técnica, escreve ensaios quinzenais sobre italianidade em São Paulo em Pittoresca.
Ouça o podcast Eu, Storyteller com os textos desta coluna aqui.
Imagem: Embarque de italianos para o Brasil em 1910/ Acervo do Museu da Imigração do Estado de São Paulo